“Há dez anos eu não me imaginava tão 'Joana' assim. Mas além da maternidade me transformar muito, sempre tive uma necessidade de ordem, porque eu tenho uma cabeça muito caótica, muito germiniana, de que eu posso tudo, que eu quero tudo. Hoje sou menos ‘oba oba’, mais prática.”
Bel é mãe de Davi, sete anos, diagnosticado com síndrome de esclerose tuberosa e autismo. Bel é filha da atriz Dina Sfat , que morreu em 1989 aos 50 anos, de câncer, quando ela tinha 18. Bel é também filha do ator e diretor Paulo José , que hoje enfrenta o mal de Parkinson. Bel é quem cuidou da mãe e é Bel também quem provém cuidados e carinhos ao filho e ao pai.
O histórico médico e as experiências com a família, claro, acabaram transbordando para a enfermeira Joana. “A gente sempre tenta fazer as duas mãos com a personagem. Eu aprendo muito e empresto meu conhecimento pelo assunto. Sou bem disponível para cuidar de outra pessoa, organizar remédios, até trocar as roupas se for o caso. Tem gente e que não pode ver sangue, problema que eu nunca tive.”
iG: Você sempre fez personagens mais cômicos. É muito diferente enfrentar uma personagem densa como a Joana? Isso muda alguma coisa em você? Bel Kutner: Claro! Já foi assim quando eu vivi a Marialva, de "Gabriela", que era muito infeliz, deprimida, bem diferente de tudo que já fiz. A Joana é uma mulher muito séria, quieta e interessante, bem diferente do meu temperamento. Então estou podendo exercitar essa contenção, que é característica dela. Eu sou bagaceira, não adianta, não sei ser contida. Quanto a interferir na minha personalidade, pelo contrário, saio de lá querendo extravasar tudo o que eu tenho direito.
iG: Na novela você vive uma enfermeira. Fora dela cuida de seu pai (que tem Parkinson há 15 anos) e cuidou de sua mãe com câncer até a morte. Todo esse histórico te ajudou na construção da Joana? Bel Kutner: Com certeza. A gente sempre tenta fazer as duas mãos com a personagem. Aprendo muito e empresto meu conhecimento pelo assunto. A questão de medicina, saúde, de cuidar de alguém sempre me despertou muito interesse. Sou uma pessoa bem disponível para cuidar de outra pessoa, organizar remédios, até trocar as roupas se for o caso. Tem gente que não pode ver sangue, problema que eu nunca tive.
iG: Você também tem que dar uma atenção a seu filho Davi (diagnosticado com síndrome de esclerose tuberosa e autismo). Como ele está? Bel Kutner: Pois é, ninguém aqui tem uma vida regradinha. Minha vida é muito organizada em função do trabalho e do meu filho. E eu ainda tenho um namorado maravilhoso, mas que é super atarefado e dedicado à vida profissional dele, então a gente vai dando o nosso jeito sempre. O Davi está ótimo, fofo, enorme e cheio de atividades. Já está com sete anos, falando pelos cotovelos, vivendo no tempo dele.
iG: Quais são as dificuldades de criar um filho autista? Bel Kutner: Acho que quem tem uma pessoa autista na família tem que pedir ajuda, tem que estar com outras pessoas, porque não têm dois autistas iguais, mas têm vários pontos em comum entre eles. A família precisa muito de tratamento. As pessoas que convivem com essa doença precisam de apoio, orientação, um direcionamento e tratamento, porque têm coisas especificas que você passa. Com uma criança autista, você pode criar um mal habito que pode virar um condicionamento errado, e daí para mudar esse padrão é muito pior. O autista precisa de uma atenção dez vezes maior. É muito delicado, porque na melhor das intenções, você pode estar diminuindo a autonomia daquele indivíduo.
iG: E como é o dia-a-dia do Davi?
Bel Kutner: Estou com ele todos os dias, todas as horas e momentos que não estou trabalhando. Ele frequenta um curso que tem várias atividades especificas com crianças portadoras de autismo, além de ter contato com psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogo. Neste centro que eu vou, também tem a terapia para os pais. É um acompanhamento bom que eu faço.
Bel Kutner: Estou com ele todos os dias, todas as horas e momentos que não estou trabalhando. Ele frequenta um curso que tem várias atividades especificas com crianças portadoras de autismo, além de ter contato com psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogo. Neste centro que eu vou, também tem a terapia para os pais. É um acompanhamento bom que eu faço.
iG: O autismo é abordado na novela através da persoanem da Bruna Linzmeymer. Acha que ela e o núcleo estão conseguindo passar o que acontece com as famílias que convivem com a doença?
Bel Kutner: A Bruna está perfeita e a família também. É daquele jeito mesmo: muitas crianças ficam isoladas, o que não pode. A novela vai mostrar uma coisa muito bacana, que o autista na verdade está atento a tudo, percebendo muito mais do que as pessoas imaginam, ouvindo tudo, mas não consegue muitas vezes se expressar. O que é comum são as pessoas falarem coisas na frente de crianças e até de adultos autistas, que não poderiam, alegando que eles não entendem, que não escutam, que só vão ficar prestando atenção na mão delas, nos desenhos. Isso não é verdade.
Bel Kutner: A Bruna está perfeita e a família também. É daquele jeito mesmo: muitas crianças ficam isoladas, o que não pode. A novela vai mostrar uma coisa muito bacana, que o autista na verdade está atento a tudo, percebendo muito mais do que as pessoas imaginam, ouvindo tudo, mas não consegue muitas vezes se expressar. O que é comum são as pessoas falarem coisas na frente de crianças e até de adultos autistas, que não poderiam, alegando que eles não entendem, que não escutam, que só vão ficar prestando atenção na mão delas, nos desenhos. Isso não é verdade.
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Tudo que tive vontade de fazer, eu fiz. Tem gente que já me achou mega louca. O que eu posso te garantir é que eu não rasgo dinheiro e tento evitar um pouco as coisas ilegais, então está tudo certo”
iG: Acha que a novela pode ajudar a desmistificar um pouco o assunto?
Bel Kutner: Sim, é maravilhoso e emocionante ver o assunto sendo explicado em uma novela. Acho que vai ajudar a criar uma consciência nas pessoas, mesmo quem não tem nada a ver com o assunto, de que isso existe e precisa, no mínimo, ser respeitado. Algumas situações ficam muito desagradáveis por pura ignorância das pessoas. Muitas vêm abordar de uma maneira errada, com preconceito.
Bel Kutner: Sim, é maravilhoso e emocionante ver o assunto sendo explicado em uma novela. Acho que vai ajudar a criar uma consciência nas pessoas, mesmo quem não tem nada a ver com o assunto, de que isso existe e precisa, no mínimo, ser respeitado. Algumas situações ficam muito desagradáveis por pura ignorância das pessoas. Muitas vêm abordar de uma maneira errada, com preconceito.
iG: Pode dar um exemplo?
Bel Kutner: Ah, às vezes você está em um lugar e a criança começa a ter um ataque e você não tem o que fazer, você não deve privar, mas aí tem que escutar: ‘Essa mãe aí, toda nervosa, toda estúpida, estressada...’, ou ainda, ‘Nossa, olha essa mãe passiva, que está deixando o filho se jogar no chão’. Dependendo do que a criança tem, se os pais tentarem segurar, é pior, se tentar gritar, é pior. E o que você aconselha a uma pessoa dessa? Deixar o filho trancado em casa? É muito pior. É importante para eles terem contato com o mundo.
Bel Kutner: Ah, às vezes você está em um lugar e a criança começa a ter um ataque e você não tem o que fazer, você não deve privar, mas aí tem que escutar: ‘Essa mãe aí, toda nervosa, toda estúpida, estressada...’, ou ainda, ‘Nossa, olha essa mãe passiva, que está deixando o filho se jogar no chão’. Dependendo do que a criança tem, se os pais tentarem segurar, é pior, se tentar gritar, é pior. E o que você aconselha a uma pessoa dessa? Deixar o filho trancado em casa? É muito pior. É importante para eles terem contato com o mundo.
iG: Acha que isso é pior no Brasil?
Bel Kutner: Em países como a Inglaterra, você sai com uma melancia na cabeça que ninguém olha na sua cara. Agora, no Brasil, onde todo mundo é muito íntimo, tem um lado mais quente, que é muito bom, mas também muito ruim, as pessoas te abordam de uma maneira muito invasiva. Acho que se você vê que alguém tem alguma coisa diferente, você não precisa ficar se expressando, está claro a diferença, até porque a primeira impressão das pessoas é muitas vezes infantil. Já apontaram na cara do meu filho pra perguntar: ‘o que ele tem?’. É desagradável.
Bel Kutner: Em países como a Inglaterra, você sai com uma melancia na cabeça que ninguém olha na sua cara. Agora, no Brasil, onde todo mundo é muito íntimo, tem um lado mais quente, que é muito bom, mas também muito ruim, as pessoas te abordam de uma maneira muito invasiva. Acho que se você vê que alguém tem alguma coisa diferente, você não precisa ficar se expressando, está claro a diferença, até porque a primeira impressão das pessoas é muitas vezes infantil. Já apontaram na cara do meu filho pra perguntar: ‘o que ele tem?’. É desagradável.
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