sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Trechos do livro de John Elder Robison, “Olhe nos meu olhos – Minha vida com a Síndrome de Asperger”


Olhe nos meus olhos

“ ‘Olhe nos meus olhos, rapaz!’ Não posso dizer quantas vezes ouvi essa frase agressiva e dolorosa. ‘Olhe para mim quando estou falando com você!’ Eu me contorceria e continuaria a olhar para o chão... eu daria uma rápida espiada em sua face hostil, me contorceria ainda mais, desconfortável naquela situação e incapaz de concatenar as palavras, e rapidamente desviaria o olhar... Todo mundo achava que entendia meu comportamento. Era simples: eu não era boa coisa. ‘Ninguém confia num cara que não olha você nos olhos...’ Eu não conseguia entender porque... era tão importante olhar nos olhos dos outros. A vergonha me dominava, porque eu sabia o que as pessoas esperavam que eu fizesse e, mesmo assim, eu não fazia. O que havia de errado comigo... Quando estou conversando com alguém, estímulos visuais podem distrair a minha atenção. Na infância, se eu visse alguma coisa curiosa, parava completamente de falar e ficava observando o que me interessava. Hoje em dia, eu não interrompo a conversa totalmente, mas posso fazer longas pausas entre as frases. Por isso, procuro focar meus olhos em algo neutro, como o horizonte ou o chão. Então, para mim e outros portadores de Asperger, é perfeitamente normal conversar sem encarar o interlocutor... A Síndrome de Asperger existe de maneira continuada – algumas pessoas apresentam os sintomas em tal grau que a sua capacidade para viver sozinha na sociedade fica gravemente comprometida. Outros, como eu, são afetados levemente, o suficiente para que possam levar a vida à sua própria maneira, depois de uma certa adaptação... Asperger é algo com o qual você nasce... Meus pais percebiam que eu era diferente das outras crianças. Eu andava de um jeito mecânico, robótico, desajeitado. Minhas expressões faciais eram rígidas, raramente sorria e não conseguia interagir com os outros... E quando o fazia, era em geral de uma maneira complicada. Na maioria da vezes, ficava sozinho em meu pequeno mundo, separado de meus colegas, totalmente absorvido com uma pilha de varetas e Legos. Além disso, nunca ficava quieto: pulava, saltava e rolava no chão. Mas, mesmo com toda essa movimentação, eu não conseguia agarrar uma bola ou fazer nada atlético... Crescer foi um solitário e doloroso caminho... A Síndrome de Asperger não é uma doença, é uma maneira de ser. Não há nenhuma cura, nem é preciso. Há, no entanto, a necessidade de conhecimento e de adaptação por parte das crianças com Asperger, de suas famílias e de seus amigos... Levou bastante tempo... para saber quem eu sou... Orgulho-me de ser um Asperger.”

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