Quieto, distraído, fazendo movimentos repetitivos. Essa é a imagem
que a grande maioria das pessoas tem dos autistas. Além do estereótipo, a
falta de informação e o acesso gratuito a especialistas restrito ainda
dificultam o diagnóstico e o desenvolvimento dos autistas no Brasil.
“No ABC não tem praticamente nada. Temos de ir para São Paulo achar
especialistas e é tudo particular”, destacou André Luiz Pinheiro, 41
anos, morador de Santo André, autor do livro O mistério de Palhaço Azul e
criador da webrádio Xiririca. O autismo é definido como um transtorno
global do desenvolvimento com características básicas, como inabilidade
para interagir socialmente, dificuldade no domínio da linguagem para
comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos e padrão de comportamento
restritivo e repetitivo.
Pedagogo, pós-graduado em educação infantil, educação ambiental e
agora concluindo a especialização de educação inclusiva, Pinheiro é
exemplo de como o diagnóstico da doença ainda é difícil e de que os
autistas podem viver normalmente. “Só fui diagnosticado aos 40 anos. As
pessoas desconfiavam e me indicavam que deveria procurar ajuda. Fiquei
dois anos procurando vários médicos até receber o diagnóstico”,
destacou.
Pinheiro ressaltou que desde os 2 anos apresenta sinais, mas que como
entrou na escola e se formou normalmente as pessoas só o consideravam
um garoto estranho. “O que senti quando recebi o diagnóstico? Alívio.
Eu, diagnosticando e fazendo tratamento, já sinto uma melhora muito
grande, mesmo tardio”, pontuou.
O pedagogo se encaixa no perfil da Síndrome de Asperger, transtorno
do espectro autista. Normalmente, os pacientes com esse perfil se
distanciam da imagem clássica do autista. “Muita gente por aí tem e não
sabe. Teve gente que falou que achava impossível eu ser autista, pois
fiz faculdade. Converso com muitas pessoas autistas e cada uma é de um
jeito diferente, varia bastante. A única característica igual para todos
é o problema com interação social”, ressaltou.
Pinheiro acredita que o mito em torno da doença, a falta de
informação, ajuda a assustar os pais, que recebem o diagnóstico dos
filhos com desespero. “Tem gente que acha que autista não pode namorar,
casar, que não vai conseguir estudar”, afirmou. Com ajuda da internet e
de campanhas de conscientização, o pedagogo percebe que muitas pessoas
têm conseguido o diagnóstico ainda na infância. No entanto, aponta que o
sistema público de saúde não oferece o mínimo para que o diagnóstico e o
tratamento ocorram nas famílias sem condições financeiras.
Livro
Pinheiro destacou que a fase mais difícil de superar foi a
adolescência. É sobre essa etapa que o pedagogo conta em seu livro, O
mistério do Palhaço Azul, lançado pelo Clube de Autores. A autobiografia
traz as dificuldades da época em que não sabia que era autista, sua
busca por ajuda e sua transformação após o diagnóstico. “Quero passar
esperança para as pessoas, que é possível o autista se desenvolver e
viver normalmente.”
Fazendo apresentações como palhaço Pinheiro viu a oportunidade de
trabalhar seus problemas de comunicação, uma forma de se abrir para um
mundo de extroversão que muitas vezes se distancia do autista.
Outra atividade que André desenvolve é na webrádio Xiririca, onde
junta música e informação, contando sua história e ajudando a divulgar o
autismo. A rádio já possui mais de 8 mil acessos, com uma média de
visitação diária de 200 acessos e fica 24 horas no ar. A rádio pode ser
ouvida pelo endereço www.radioxiririca.com.br e o livro, impresso ou em
versão digital, pode ser adquirido pelo site www.clubedeautores.com.br
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