terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ensinar Limites

A insegurança que alguns pais sentem na hora de colocar limites podem fazer com que não tomem nenhuma atitude quando a ocasião exige e isso pode causar em seus filhos sentimentos de abandono e desamparo.
Porém, para algumas crianças é extremamente difícil abrir mão de suas vontades e enxergar que vivemos em uma sociedade que nos exige cumprir regras.
Um dos recursos muito utilizados para a criança que não estabelece relações entre uma coisa e outra e não aceita limites é o quebra-cabeça. Com ele, é possível fazer relações de causa/efeito, tempo/espaço, análise/síntese, como também aceitação de modelo e submissão ao limite externo.Também podemos trabalhar o raciocínio, a memória e a atenção. É possível tornar a atividade ainda mais prazerosa utilizando imagens próprias como fotografias de passeios, da família e até mesmo com mensagens de regras e bom comportamento.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Carta a minha primeira Professora

Não é apenas o caminho pelo qual todas profissões passam, o professor é o caminho por onde passam todos os sentimentos, diferentes histórias e onde se contribui para a formação de um cidadão. A sua importância para alguns é o caminho pelo conhecimento, mas para outros, é muito mais que isso, a sua interação torna-se essencial nos sentidos mais amplos que um indivíduo pode necessitar. E para demonstrar o quanto um professor é importante para uma criança em desenvolvimento e a contribuição desta para toda a família, segue como exemplo a carta a minha primeira professora de uma criança com transtorno invasivo do desenvolvimento, mas isso pode ser adaptado a qualquer caso ou situação, envolvendo o profissional com a história da criança e melhorando o processo de aprendizagem.

Carta a minha primeira Professora

Querida professora

Sou um menino de 4 anos e passei por um longo processo até chegar a esta escolinha. Por enquanto, possuo necessidades especiais porque não consigo me comunicar e todos os exames que fiz constam que conseguirei diante de um processo de estímulo, convívio social e muito apoio dos que me cercam.
Até 1 ano e 8 meses me desenvolvi como qualquer outra criança. Ergui a cabeça, parei sentadinho, engatinhei e comecei a andar no tempo certinho. Sorria para minha mamãe, papai e minha irmãzinha. Explorava meu mundo, meus brinquedos e adorava passear. Mas, nesta mesma idade passei a me isolar, não participava mais como antes das brincadeiras, parei de olhar para as pessoas até mesmo quando me chamavam pelo nome e nem mesmo meus brinquedos continuavam atraentes. Meu caminhar passou a ser nas pontas dos pés.
Observando isso, minha mãe passou a me levar em diversos especialistas, que lhe acalmavam dizendo estar tudo bem, que era meu jeito e meu tempo.
Minha mãe passou a estudar por conta própria e preparar estímulos que me trouxesse progresso. Ela optou por não me colocar numa escolinha, justamente pela perda do contato ocular. Decidiu que trabalharia um pouco comigo antes de procurar a “pessoa-chave”.
Foram inúmeras atividades, quase todas eram como se nem estivessem sendo feitas porque eu não participava de nenhuma forma, ou seja, sem interagir, sem observar, sem demonstrar satisafação ou insatisfação.
Quando voltei a olhar para minha mãe, foi no momento em que  ela fazia bolinhas de sabão para mim, ela estava distraída e parou por um instante, então a olhei nos olhos e conduzi sua mão para que continuasse. Foi um momento muito emocionante para nós, pois apartir daí passei a interagir com todos novamente, porém da minha forma, pois o meu lado comunicativo continua comprometido.
Embora não houvesse suspeita, mas para descartar a possibilidade de uma perda de visão, que poderia também interferir na comunicação, fui levado a uma oculista especializada em crianças e também pessoas especiais. Ela percebeu perfeita visão e disse que eu tinha uma interação muito boa, que minha mãe deveria procurar com cautela a pessoa e a Instituição que me receber, porque enxergava muito potencial em mim.
Assim, começaram novas buscas por respostas e várias visitas em escolas e escolinhas…
Viajamos muito à Porto Alegre, gastamos o que não tínhamos em buscas de respostas com inúmeras avaliações e lá me diagnosticaram com DEL (Distúrbio Específico da Linguagem) porque não estou fechado no meu mundo, embora mal me comunique.
Nesse momento, quando fíz uma ressonância, fiquei entubado e isso me fez sentir medo quando visse alguém de branco. Uma vez fiquei doente e fui interpretado como mal educado não recebendo atendimento do doutor, porque chorei e gritei muito.
Já superei muitos obstáculos, mas meu maior desafio é a interação social. Gosto de estar com as pessoas, porém não sei como agir.
Meu desenvolvimento é aleatório, algumas coisas consigo fazer e compreender e outras ainda não atingi maturação. Preciso da tua compreensão, preciso da tua ajuda.
Tenho sensibilidade ao som, que por vezes posso sentir 100 vezes maior do que a senhora sente, por isso gritos, ruídos e som alto podem me trazer desconforto ou até mesmo dor. Ambientes barulhentos, sinto-me confortável após perceber que é seguro, mas antes disto fico assustado. Alguns objetos ainda tento reconhecer com a boca (fase oral), não consigo diferenciar o que pode ser perigoso ou nojento.
Além da fala, minha imaginação está prejudicada. O ato de apontar está associado a imaginação pois é preciso imaginar um caminho até chegar aonde o dedo leva, ainda não consigo apontar e nem mesmo olhar para onde foi apontado. Minha mamãe tem me ensinado através de distâncias curtas, na maioria das vezes consigo fazer esse caminho imaginário, mas quando a distância é longa, não.
Estou escrevendo toda a minha história, para que a senhora, minha primeira professora, consiga me entender melhor. Por alguma razão, meus pais optaram por você ser a minha “pessoa- chave”, a sua compreensão pode resultar num grande avanço na minha vida, que carregarei para sempre comigo. As minhas primeiras noções do mundo social, serão conduzidas pelas suas mãos, por isso és sim, uma “pessoa-chave”na minha vida.

"A inclusão escolar começa na alma do professor, contagia seus sonhos e amplia seus ideais. A utopia pode ter muitos defeitos, mas pelo menos, uma virtude tem: ela nos faz caminhar."
Eugênio Cunha - Autismo e Inclusão - Psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família”.

“Não devemos permitir que uma só criança fique em sua situação atual sem desenvolvê-la até onde seu funcionamento nos permite descobrir que é capaz de chegar. Os cromossomos não têm a última palavra.” (Reuven Feuerstein)