
O curso foi desenvolvido a partir da versão criada originalmente pelaDyslexia Internacional e autorizado pelo Ministério de Educação Superior, da Pesquisa Científica e das Relações Internacionais da comunidade francófona belga. O material foi financiado pela Unesco e lançado em quatro de suas seis línguas oficiais: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol.
No Brasil, o conteúdo direcionado ao treinamento dos professores foi trazido pela UFMG, que, em parceria com o Instituto ABCD, adaptou-o para a língua portuguesa e lançou a plataforma. Os conteúdos podem ser acessados no link http://dislexiabrasil.com.br. “Em outros países, o conceito de dislexia faz parte do dia a dia escolar. Aqui, ainda temos dificuldade para garantir que as pessoas entendam o que ela é. Por conta disso, estamos trabalhando, principalmente, na conscientização do público e em um caráter mais específico, a partir da disponibilização desse material. Ele traz tanto questões científicas quanto técnicas, com a proposta de empoderar os professores de diferentes formas”, afirma Monica Weinstein, presidente e diretora do Instituto ABCD e mãe de uma filha com dislexia e discalculia – problema que gera dificuldade de aprendizagem de uma pessoa de compreender e manipular números.
“Se não tivermos os docentes do nosso lado não conseguimos mudar esse cenário. Tentamos evitar a cronificação, que é chegar a um cenário mais agravante da dislexia no país”
Para Weinstein, a capacitação é fundamental para que os professores coloquem o tema cada vez mais em pauta. Cerca de 10% da população mundial, desconsiderando cultura, classe social ou gênero, é afetada pela dislexia, de acordo com estudo feito por cientistas da universidade College London, no Reino Unido. “Se não tivermos os docentes do nosso lado, não conseguiremos mudar esse cenário. Tentamos evitar a cronificação, que é chegar a um cenário mais agravante da dislexia no país”, afirma.
Para acessar os conteúdos, os professores precisam estar cadastrados na plataforma. Os materiais, que incluem textos, PDFs e vídeos, podem ser usados de forma ilimitada. Como o curso não é modular, o usuário pode gerenciar um cronograma próprio para suas aulas – que têm, em média, 20 horas –, além de responder a um questionário no final do curso, para receber um certificado. Além disso, por conta de seu conteúdo técnico, a plataforma também pode ser usada por especialistas, como pedagogos ou médicos, que trabalham com crianças e jovens. “O curso não tem tanta interatividade, porém permite que professor organize seu tempo da forma como quiser”, diz.
Weinstein afirma que esse treinamento é importante porque dá ferramentas e empodera o professor para saber o que fazer e entender as necessidades de cada estudante. “O professor não faz diagnóstico porque ele não tem especialidade para isso. No entanto, é ele quem passa grande parte do tempo com o aluno, no dia a dia, em sala de aula. Ele não precisa fazer um diagnóstico, mas um check list, já que aprende a perceber os perfis de alunos. Dessa maneira, o professor passa a entender que as dificuldades não estão ligadas ao histórico escolar do aluno, de maus professores, mas porque o estudante pode ser um disléxico e realmente ter problemas em aprender”, diz.
Além da bagagem conceitual, o treinamento oferece orientações bastante aplicáveis ao cotidiano escolar, como a realização de exercícios de leitura oral com alunos com dislexia (uma vez que eles têm dificuldade em se concretar na leitura escrita) ou a não descontar pontos por erros ortográficos. “Essas são algumas orientações genéricas, que estão nas mãos dos professores e não dependem de grandes investimentos”, afirma.
A ausência de um diagnóstico precoce, considera Weinstein, pode interferir diretamente na autoestima e motivação, deflagrando a evasão e o fracasso escolar. “Os alunos com dislexia que recebem uma formação adequada em alfabetização, por exemplo, com cuidado especial, em seis ou oito meses conseguem render dois anos de atraso”, finaliza.
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