Problema pode ser superado com uso de medicamentos e acompanhamento escolar diferenciado
Pedro Assis Prudente Cerqueira de Morais, 14 anos, não perde o caminho da bola quando está no futebol. Com os games, da mesma forma: o garoto é fera e consegue terminá-los sem perder o foco. Na escola, entretanto, as coisas não são tão simples. A partir do sexto ano, seu rendimento foi caindo, a despeito do esforço. "Ele começou a ficar frustrado, porque esperava ter boas notas e não obtinha o resultado", lembra a mãe, a administradora Suelma Assis Prudente de Morais, 41.
Em uma ocasião, Pedro sofreu um tombo e Suelma achou melhor levá-lo a um neurologista. No consultório, diante dos exames, ouviu, estarrecida, uma descrição do filho. "Eram certos comportamentos do Pedro como, por exemplo, o de não apagar a luz quando saia do quarto ou mesmo o hábito de jogar as roupas no chão. Às vezes, pedíamos duas coisas e ele só fazia uma, se não enfatizássemos bastante o que queríamos. E o médico descreveu tudo isso."
O adolescente, à época com 12 anos, foi diagnosticado com Transtorno do Déficite de Atenção com Hiperatividade (TDAH), problema cada vez mais comum no ambiente escolar, mas ainda pouco discutido entre os profissionais da educação. Para o pesquisador e professor de neurologia infantil da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Aucélio, os métodos pedagógicos atuais fazem com que crianças e adolescentes sejam exigidos além de sua capacidade etária.
No caso dos que possuem TDAH, essas exigências tornam mais evidente a necessidade de um tratamento, já que as dificuldades não tardam a aparecer. "Hoje, a informação chega muito mais rápido e com maior complexidade. A pessoa com déficite de atenção tem mais trabalho para processar essa quantidade de informação", afirma o pesquisador.
Para Cristiane, mãe de Linconl e Pedro, ambos portadores de TDAH, o fundamental é encarar o problema sem preconceitos: "É fácil demais culpá-los e ficar alheio depois"
O TDAH não é uma doença com diagnóstico simples. Segundo Aucélio, ela é uma enfermidade neurocomportamental, muitas vezes caracterizada pela hiperatividade (desejo de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e sem efetividade). Já o déficite de atenção é a dificuldade em se concentrar - aspecto que traz maior transtorno na escola. "E quando você tem a hiperatividade associada ao déficite de atenção, além de um prejuízo na escola, há um prejuízo social, já que pouca gente suporta ficar perto de uma criança hiperativa."
Suelma conta que o problema do filho não foi facilmente assimilado pela família, sobretudo pelo marido dela. Ocorre que o TDAH é muitas vezes confundido como uma forma de as crianças e os adolescentes escaparem das responsabilidades. "Porém, quando ele entendeu, deu total apoio e hoje temos a prova que um bom ambiente familiar é imprescindível", enfatiza.
A identificação precoce do transtorno tem a vantagem de poupar o paciente de maiores aborrecimentos na vida adulta. "Uma vez que você entende que isso está acontecendo dentro da sua casa, começa a observar na sua família pessoas que têm o traços do TDAH e que não foram tratadas quando jovens. Elas apresentam dificuldades tanto pessoais quanto profissionais de lidar com a vida", analisa a administradora. Pedro é enfático ao reconhecer o papel da mãe no combate ao mal: "É sempre importante que ela esteja do meu lado, em todos os momentos. Principalmente nesses que envovem a escola, porque ela me dá incentivo".
Para Cristiane Alves Rodrigues, 40 anos, mãe de dois adolescentes com TDAH, Linconl, 15, e Pedro, 13, a escolha acertada da escola se mostrou central para o controle da patologia. "Meus filhos têm dificuldades que os fazem precisar de um tratamento diferente, que nem todo ambiente escolar pode oferecer", desabafa. O segredo para a boa convivência com os sintomas, diz ela, é jamais colocar a culpa da situação nas crianças. "É muito fácil agir assim e ficar alheio ao que realmente acontece."
Carlos Aucélio frisa que o diagnóstico do TDAH trabalha com várias circunstâncias, dentro das quais a vida social, familiar e escolar da criança, o histórico acadêmico dela, além dos antecedentes patológicos na família. "Há toda uma rotina, com critérios adequados para a idade, para afirmarmos o que está acontecendo com ela." O médico explica que isso é necessário porque o TDAH pode ser um sintoma de outros problemas, como transtorno bipolar ou alfabetização inadequada.
Mais uma vez são os pais quem devem ficar atentos. Aucélio diz que o momento de ver o médico é quando a criança ou o adolescente passa a ter prejuízos sociais em decorrência dos sintomas. Segundo o pesquisador da UnB, embora o diagnóstico não caiba à escola, é preciso que os profissionais da educação estejam cientes da problemática e alertem os pais.
Fonte ClicRBS
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