sexta-feira, 14 de junho de 2013

Rapaz passa fome e está largado à própria sorte



ABANDONO – Moradores do Cianortinho se sensibilizam, mas podem fazer muito pouco pelo rapaz

Em frente à calçada, o mau cheiro exalado repele os pedestres e os mosquitos marcam presença. Não é um saco de lixo, nem um cão abandonado; é um rapaz de 27 anos. Seu nome é David. Os vizinhos, moradores da Rua Timbiras, sentem-se de mãos atadas diante da situação do rapaz, que passa os dias em um triciclo. Ele não fala, mas é perceptível que entende tudo que ocorre a seu redor. 
“Um doente não pode cuidar de outro”, resume a incansável professora Ana Floripes, que utilizou sua tarde de folga para ir conhecer David. Sua mãe e o padrasto não tem condições de cuidá-lo.
“O David é essa situação que vocês estão vendo aí de abandono. Ele passa fome, tem dor, fica embaixo de chuva. Ele tinha a avó que cuidava, ela morreu há uns cinco meses e é isso aí. A gente que acaba dando alguma assistência para ele”, explica uma moradora.
A vizinhança conta que eles tentam alimentá-lo, mas tem medo dele se engasgar. Uma moradora relata que há poucos dias David estava com tanta fome que saiu gritando pela rua. “Eu fiz abacate amassado, mas eu não conseguia chegar perto dele de tanto que ele fedia. Eu ficava com ânsia de vômito. Então minha filha, que tem o estômago mais forte, me ajudou e deu a comida a ele. Ele gritava, passava a mão no estômago mostrando que estava faminto, era desesperador ver o jeito dele”.

David é conhecido na rua, principalmente dos moradores mais antigos que o viram crescer. Aos poucos homens e senhoras se aproximam para testemunhar a sua trajetória. “Eu moro aqui há trinta anos. Tem noite que não durmo de pena em saber o quanto esse rapaz tem sofrido e ninguém toma nenhuma providência”, desabafou uma senhora.
“A polícia nem vem mais aqui, porque não sabem o que fazer com ele. Mas quando ele avista o carro ele faz sinal que quer ir embora junto. Na cabeça dele ele vai ser mais feliz se a viatura levar ele daqui”, narrou outra vizinha.
A mãe do rapaz relatou que ficou 120 dias sem água e que emprestava da vizinha para banhar David. Unânimes, os vizinhos relatam problemas de alcoolismo do casal.
David não frequenta escola, não vai a médicos, não tem lazer, nem perspectiva de um dia sair da escuridão em que está enfiado. David não existe nas estatísticas. “A vida do David é esse triciclo. Tem dias que até embaixo de garoa ele está na rua. Eu fico me perguntando onde estão as autoridades que não ajudam esse rapaz”, desabafou uma moradora.
David está atento a tudo. Um fio de baba cai de sua boca. Mosquitos assentam em suas costas e cabeça. Ontem, ele ganharia fraldas. A mãe, um botijão de gás. Os vizinhos, a esperança de ver um ser humano olhado por seus pares. David, certamente, não tem título de eleitor.

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