sábado, 20 de dezembro de 2014

Carta para o Papai Noel!

Em época de escrever cartinha ao Papai Noel, mantemos os mesmos desejos do ano passado, com algumas ressalvas...
Esta carta foi escrita em 2014 e somamos com algumas necessidades que encontramos em 2015....
Gostariámos que os profissionais da saúde conhecessem o autismo. Há médicos em nossas  vidas que são verdadeiros anjos, que nos amparam quando a luta soma autismo e saúde. Mas, já encontrei muitos que por desconhecimento sobre o TEA nos negligenciaram. Esse ano, meu filho teve pneumonia, sentia falta de ar e procurei atendimento no plantão. Aguardamos 3 pacientes e quando ele começou a se agitar implorei para a pediatra fornecer a ele o atendimento preferencial e ela nos negou... Na tentativa de evitar uma crise, sai daquele ambiente cheio, mas o mal estar dele era tão grande, que acabou se arranhando muito no pescoço em função  da falta de ar que sentia... Muita dor poderia ter sido evitada se ela conhecesse sobre o TEA e consequências mais sérias também poderiam ter acontecido. É triste quando precisamos de uma emergência, ir implorando a Deus que seja alguém bastante humano para entender a condição dele. Em situações de sofrimento e sem a comunicação, eles entram em crise.
Não posso esquecer que na inclusão das pessoas com autismo existem profissionais que lutam muito e outros que dificultam ainda mais. Eu tenho admiração por muitas colegas e tenho gratidão por muitos educadores que somaram e somam na nossa caminhada. Apenas tento relatar a triste realidade que a maioria enfrenta.
Mas vamos sempre em frente! Pode ser que não colheremos os frutos das nossas próprias lutas, mas se a próxima geração colher, tudo terá valido a pena.
 



Querido Papai Noel


Sei que nesta época as pessoas lhe confiam seus grandes sonhos e desejos e deve ser uma grande responsabilidade lidar com os sentimentos delas.
Particularmente não entendo o porquê nesta época as pessoas precisam comprar presentes caros para demonstrar seu amor umas pelas outras. O que considero mais importante neste momento é que elas se fazem presentes, sorriem e iluminam suas casas. A cidade inteira fica muito bonita.
Mas como és guardião dos pedidos e aquele quem realiza após receber uma carta, também tenho desejos que gostaria de realizar.
Em primeiro lugar, tenho autismo e enfrento muitas limitações. O número de casos de pessoas dentro do espectro tem crescido alarmantemente e gostaria que fosse investido mais na ciência.
Em segundo lugar, as pessoas com autismo não recebem atendimento adequado. Somente famílias que possuem grandes posses financeiras conseguem o diagnóstico e a intervenção precoce, a qual é determinante para alguns perderem os sintomas ou atingirem uma vida independente. Gostaria que todos tivessem as mesmas oportunidades.
Em terceiro lugar, se não bastasse a falta de políticas públicas voltadas para as pessoas com autismo, os que se encontram na vida adulta são altamente negligenciados. Pasme, mas ainda há relatos de que por falta de atendimento adequado, pessoas com autismo ficam amarradas em camas ou com uso de medicações fortes até o fim de seus dias. Gostaria que essa visão se modificasse.
A inclusão escolar é precária e na maioria das vezes promove mais exclusão do que oportunidades para desenvolvermos nosso potencial. Ainda existe recusa de matrículas e/ou resistência, principalmente das escolas particulares. Ainda existe apenas a permanência das crianças nos espaços das escolas, sem ser parte de nada, realizando as mesmas atividades anos após anos, sem olhar que antes de termos autismo, somos crianças em desenvolvimento e podemos surpreender com nossas capacidades, mas não conseguiremos mostrar sem termos verdadeira oportunidade para isso. Algumas escolas criam grandes barreiras para impedir a participação dos pais no desenvolvimento e desempenho de seus filhos, demonstrando-se ofendidas e torcendo o nariz. 
A inclusão para a maioria das crianças com autismo ainda é vista como um favor e não um direito. Por ser a escola o futuro da nação e o melhor lugar para trabalharmos a igualdade e o respeito ao próximo, gostaria que os responsáveis pela educação tivessem verdadeira consciência do quanto ela é fundamental para o desenvolvimento de todos. Sim, aprendo mais com crianças típicas e há estudos que comprovam que elas aprendem mais comigo também, tornando-se adultos melhores, solidários e cientes de limitações das quais não vivem.
E por último, lhe peço muita informação sobre o tema. Apesar de ter apenas 8 anos, já vivi muito preconceito e discriminação. Pode até ser que algumas pessoas tenham agido por crueldade , mas a maioria foi por ignorância, por desconhecer... Por isso, desejo mais voz para a conscientização, mais informação e esclarecimento! Quanto mais as pessoas conhecerem, menos julgamentos sofreremos e seremos mais respeitados como cidadãos e menos condenados à uma vida solitária.
Desejo-lhe um feliz Natal e Um Excelente Ano Novo.

Com carinho,
Ângelo


http://pratica-pedagogica.blogspot.com.br/

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